segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Últimos Momentos

(ou, Sobre a importância da realização da Semana de Arte Modesta neste ano)

Refletindo sobre a diferença entre os acontecimentos históricos e o sentido que os homens fazem dos mesmos, um velho sábio lembrou que todos os eventos e personagens importantes ocorrem, por assim dizer, duas vezes, e acrescentou: “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Não seria esta uma forma correta para interpretar as recentes mudanças de regularização do cotidiano da comunidade puquiana, proibindo o já proibido e legitimando o já legitimado? O que torna a questão mais complexa é o fato de nos tempos atuais a tragédia ser farsesca e a farsa, por sua vez, terrivelmente trágica. A dinâmica social específica dos campi da PUC-SP se formou de maneira extremamente atualizada em relação ao establishment global: Tornou as antigas transgressões comportamentais em normas cobradas pelo senso comum. Assim se apresentam as “liberdades” (entre um milhão de aspas) gozadas pelos indivíduos que compõem este círculo de relações, e os efeitos da Semana de Arte Modesta nunca conseguiram ultrapassar a afirmação deste senso comum.
Antes de tudo, para melhor compreender esta ordem de coisas do meio universitário, deve-se desde já abandonar uma compreensão distanciada sobre os posicionamentos políticos quanto à dinâmica administrativa da PUC-SP, entendendo a universidade como um “microcosmo da sociedade em geral”. Não se trata de um microcosmo, mas da própria ordem social per se se manifestando em uma de suas instâncias de composição. Sendo assim, tal qual em outros lugares de embate político, o conservadorismo se afirma como uma oposição, ou seja, uma crítica a favor, apresentada como uma contraposição explícita ao establishment. Assim se legitimam a vigília intensificada, a caça-às-bruxas institucional e a necessidade de maior controle sobre a interação entre indivíduos inseridos no meio puquiano. Não se trata de valores morais mascarando um ordenamento que visa à mera eficiência produtiva, mas a própria eficiência produtiva como valor moral, tendo como elemento de composição explícito toda a violência necessária para que se efetive. Aqui não se trata meramente de punir subversões por romperem com uma ordem de coisas. Tal qual em contextos amplos, trata-se de atribuir subversão a algo que já compõe o existente, inserir determinado ato a uma ordem de coisas. Neste sentido, é crucial a participação de todos na Semana de Arte Modesta deste ano, pois, com sua inofensiva forma de ser, lida com todas estas questões do atual contexto puquiano. Por meramente reafirmar algo que já faz parte da dinâmica social da PUC, o conservadorismo renovado colocará a cara à tapa, e será obrigado a debater o que compõe as suas entranhas, pois, afinal, cometeram o absurdo de tornar até mesmo a Modéstia transgressora.

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